O que é Gematria? Conheça os segredos da numerologia cabalística
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A numerologia cabalística, conhecida como gematria, é a prática de revelar conexões ocultas nas palavras e textos hebraicos baseados nos valores das letras e números. Muito utilizada na cabala, oferecendo uma compreensão mais profunda não apenas das escrituras, mas também de todo o universo, esse conhecimento permite aos praticantes descobrir insights espirituais por meio dos números e suas combinações.
Parece complicado? Não se preocupe, é por esse motivo que preparamos este texto. Quer descobrir o que é gematria? Venha comigo na leitura a seguir e descubra a origem, os métodos e os segredos deste conhecimento ancestral.
O que significa Gematria?
Gematria (em hebraico: גמטריא ou גימטריה) é um sistema de numerologia cabalística utilizado na cabala que se baseia na correspondência entre letras hebraicas e números. No Alef-Beit, como é conhecido o alfabeto hebraico, cada letra possui um significado profundo: sua forma, seu som e também seu valor numérico.
Seu princípio está no fato de que cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico, de Alef a Tav, possui um equivalente numérico que a representa.
As letras se dividem da seguinte forma:
- As primeiras 9 letras correspondem às unidades de 1 a 9.
- As próximas 9 letras correspondem às dezenas de 10 a 90.
- As últimas 4 letras correspondem às centenas de 100 a 400.
- As 5 letras finais correspondem às centenas de 500 a 900.
Na cabala, o hebraico é considerado um idioma sagrado. Portanto, os cabalistas acreditam que as correspondências entre as palavras, suas raízes e a numerologia não são coincidências, mas sim desígnios de Deus.
A própria base do sistema cosmológico cabalístico repousa na crença de que Deus criou o universo através do poder das letras hebraicas e de seus valores numéricos. De fato, os muitos nomes de Deus e suas permutações na Cabala possuem valores numéricos que se acredita conter um poder significativo.
Cada letra hebraica possui um valor numérico específico, como foi listado acima, e a soma desses valores nas palavras revela significados ocultos. Por exemplo, a palavra “chai” (vida) soma 18, tornando este número especialmente significativo na cultura judaica.
Embora a etimologia do termo gematria seja debatida, possivelmente derivado do grego “geometria” ou “gramática”, sua importância na interpretação dos textos sagrados é indiscutível.
Cada letra, de alef a tav, tem um valor numérico específico, confira na tabela abaixo:
LETRA | VALOR | LETRA | VALOR |
---|---|---|---|
Alef א | 1 | Samach ס | 60 |
Bet ב | 2 | Ayin ע | 70 |
Guimel ג | 3 | Pê פ | 80 |
Dalet ד | 4 | Tsadi צ | 90 |
Chei ה | 5 | Kuf ק | 100 |
Vav ו | 6 | Resh ר | 200 |
Zayin ז | 7 | Shin ש | 300 |
Chet ח | 8 | Tav ת | 400 |
Tet ט | 9 | Kaf (final) ך | 500 |
Yud י | 10 | Mem (final) ם | 600 |
Kaf כ | 20 | Nun (final) ן | 700 |
Lamed ל | 30 | Peh (final) ף | 800 |
Mem מ | 40 | Tzady (final) ץ | 900 |
Nun נ | 50 |
Para ver se você entendeu, confira as duas primeiras letras da tabela, alef tem gematria 1 e bet tem gematria 2. A palavra hebraica אב (pai) é formada justamente por alef+bet e, portanto, terá gematria 3 (1 + 2 = 3).
Quando duas palavras ou frases compartilham o mesmo valor numérico, isso pode sugerir uma conexão entre elas. Precisa de um exemplo? Então, vamos lá!
Echad (אחד) significa “um” e tem gematria 13. Ahava (אהבה) significa “amor” e também tem gematria 13. Através da gematria, aprendemos que amor verdadeiro implica “união”.
Emunah (אמונה) significa “fé” e tem gematria 68. Chayim (חיים) significa “vida” e também tem gematria 68. Através da gematria, aprendemos que a vida é sustentada pela fé.
Mashiach (משיח) significa “Messias” e tem gematria 358. Nachash (נחש) significa “serpente” e também tem gematria 358. Assim, sabemos que “messias” e “serpente” estão conectados: A serpente simboliza o pecado original, enquanto o Messias é visto como o redentor.
Tefilah (תפלה) significa “oração” e tem gematria 297. Refuah (רפואה) significa “cura” e também tem gematria 297. Através da gematria, aprendemos que a oração é uma forma de cura.
Como curiosidade, saiba também que, o hebraico não utiliza algarismos arábicos. Em vez disso, os números são representados usando o sistema de gematria. Por exemplo, para escrever o número 150 em hebraico, usa-se ק”נ.
A História da Gematria/Numerologia Cabalistica
As origens da gematria/numerologia cabalística estão ligadas ao judaísmo e suas aplicações tradicionais são feitas em hebraico, em especial nos textos sagrados da tradição judaica.
Na literatura rabínica, a gematria aparece pela primeira vez na Baraita das Trinta e Duas Regras, escrita pelo Rabino Eliezer por volta de 200 d.C. Este texto, que não existe mais a não ser em referências, elaborava 32 regras para interpretar a Bíblia. A 29ª regra envolvia o uso da gematria.
Sefer Yetzirah, o texto cabalístico mais antigo, acredita-se ter sido escrito no século II d.C. Foi o primeiro texto cabalístico a elaborar um sistema de gematria. Este texto trata da criação do universo por Deus através dos poderes do alfabeto hebraico e das permutações do nome de Deus.
Acreditava-se que o praticante místico poderia usar esse conhecimento para controlar os poderes da criação. O Sefer Yetzirah supostamente contém instruções para criar um golem, a lendária criatura feita de barro, que foi popularizada pelo Maharal de Praga no século XVI.
Nos anos 1200, os Hasidim de Ashkenaz (“piedosos alemães”, um grupo de rabinos que praticavam uma forma mística e ascética de judaísmo, não confundir com o hassidismo, que se desenvolveu 500 anos depois) usaram a gematria em seus escritos místicos. Seus escritos influenciaram Abraham Abulafia da escola castelhana da Cabala, cujas técnicas de meditação incluíam contemplar diferentes nomes de Deus.
O cabalista Moisés Cordovero de Safed, Israel, em 1542, compilou um manual chamado Pardes Rimonim (Jardim das Romãs), que inclui muitas seções que expõem e elaboram sistemas anteriores de gematria. O movimento Sabatiano do século XVII (cujos seguidores acreditavam que seu líder, Shabatai Tzvi, era o messias) e o movimento hassídico do século XVIII expandiram a tradição cabalística, empregando a gematria como uma ferramenta em seus escritos místicos.
Através das gerações, outras religiões também aproximaram essa prática de suas tradições. Esse é o caso daqueles que buscam, através da gematria, correspondências não apenas na Bíblia Hebraica, mas também no Novo Testamento.
Um exemplo bastante conhecido é o número 666, considerarado por muitos como o número da besta. Enquanto alguns estudiosos interpretam esse número como um código para o nome “Nero César”, existem também aqueles que afirmam trata-se de uma alusão à internet (o correspondente hebraico de www seria vav-vav-vav, ou seja , 666). Não existe um consenso quanto a isso, mas uma coisa é fato: é um exemplo de que a gematria chegou até a cultura pop em nossos tempos.
Métodos de gematria
É costume usar a gematria para descobrir os significados secretos dos Textos Sagrados, para encontrar poderosos Nomes de Deus (temos uma postagem dedicada a esse assunto) ou de anjos ou, mesmo, determinar o número exato de palavras que cada oração deveria conter.
Para isso, alguns métodos diferentes de gematria são utilizados. Abaixo, confira um pouco mais sobre dois deles:
Gematria Revelada
A gematria revelada, também conhecida como “gematria tradicional” ou “gematria simples”, refere-se ao uso básico e mais direto dos valores atribuídos às letras. Cada letra do alfabeto tem um valor numérico específico, e as palavras são analisadas somando esses valores. Este é o método mais amplamente utilizado na busca de significado profundo e interconexões entre palavras.
Aqui vai mais um exemplo da gematria tradicional. No hebraico, a palavra “Mitzvah” (preceito) tem o valor numérico 141, da mesma maneira que a palavra alto. Por esse motivo o número 141 é considerado simbólico da ligação entre o cumprimento dos preceitos e a elevação espiritual.
Um outro exemplo bastante conhecido, que até mencionamos antes, é a palavra “Echad” (אחד) que significa “um” e tem o valor numérico 13. Trata-se do mesmo valor da palavra “Ahava” (אהבה), que significa “amor.” Essa equivalência numérica sugere uma conexão espiritual profunda, indicando que a unidade (um) e o amor estão intrinsecamente ligados na interpretação cabalística.
Gematria Mística
A gematria mística, por outro lado, é uma abordagem mais complexa e esotérica, frequentemente associada à Cabala. Ela não se limita ao valor numérico das letras, mas também explora combinações e variações numéricas, padrões e correspondências ocultas entre palavras e frases.
Isso pode incluir a análise de equivalências numéricas que não são imediatamente tão aparentes na gematria tradicional.
Para o primeiro exemplo vamos fazer a gematria da primeira frase da Torá: “בראשית ברא אלהים את השמים ואת הארץ” (Bereshit bara Elohim et hashamayim ve’et ha’aretz), que significa “No princípio, Deus criou os céus e a terra”.
A primeira observação é a seguinte. A palavra “Bereshit” pode ser tratuzida literalmente com “No princípio”, mas também pode ser traduzida como “Com sabedoria”.
Isso é interessante, mas o melhor está por vir.
A gematria total da frase “בראשית ברא אלהים את השמים ואת הארץ” (que traduzimos acima) é 2701.
Esse número é a exata soma dos números 1 a 73, que é a gematria da palavra “חכמה” (Chochmá), que significa sabedoria.
Portanto, há uma conexão mística entre a frase “No princípio, Deus criou os céus e a terra” e o conceito de “sabedoria” na mística judaica. Isso não apenas reitera que “Com sabedoria, criou Deus os céus e a terra”, também, uma vez que 2071 contém a somatória dos números partindo desde o 1, que essa sabedoria tem origem na Unidade, ou seja, Deus.
Gematria no Tempo
A gematria pode ser usada de várias maneiras, e foi isso que aconteceu com esse conhecimento sagrado ao longo do tempo.
Asim, novas camadas de profundidade foram sendo reveladas e somadas conforme a própria consciência humana foi se desenvolvendo. Aqui vão alguns exemplos:
Fontes Bíblicas
A gematria mais tradicional baseia-se nas correlações numéricas, matemáticas encontradas na Bíblia Hebraica (Tanakh) e alguns textos fundamentais da Cabala como o Zohar e o Sefer Yetsirah. Essa prática permite identificar conexões mais profundas entre diferentes partes do texto, enriquecendo a interpretação bíblica.Veja esse exemplo:
A palavra “Tov” (טוב), que significa “bom” ou “bondade,” tem o valor numérico 17. Através da gematria tradicional, percebemos que não apenas a palavra “Tov” (bom) está associada a bondade, mas também sua gematria 17, frequentemente aparece em passagens bíblicas associadas a bênçãos e virtudes.
Filosofia e Ciência
Em alguns contextos históricos, círculos filosóficos e místicos adotaram a gematria como forma para explorar os padrões numéricos na natureza e na filosofia.
Filósofos gregos como Pitágoras, por exemplo, exploraram o simbolismo dos números, acreditando que estes possuíam significados inerentes e propriedades específicas. Por exemplo, o número 10, representado pela letra Yud em hebraico, era visto como um símbolo de completude e perfeição, influenciando a filosofia e a matemática grega.
Esse tipo de prática ocorreu nos primórdios da ciência quando a figura de um cientista ainda era mais próxima a de um místico.
Possivelmente, essa complementaridade entre misticismo e ciência tenha sido mais visto no ilustre físico e matemático, sir Isaac Newton. Ao partir desse mundo, Newton deixou mais estudos sobre Cabala do que sobre física e matemática.
Uso moderno
Na era digital, quando a gematria já era amplamente conhecida dos meios intelectuais e acadêmicos , ela também ultrapassou essas fronteiras e deixou de ser uma prática exclusiva dos estudiosos.
Em nossos tempos, essa técnica ancestral ganhou popularidade através da internet, especialmente entre a geração conectada da Gen Z e dos Millennials, revigorando sua relevância. Nesse contexto, a gematria passou a ser percebida não apenas como um método de interpretação de textos religiosos, mas um recurso usado para descrever significados ocultos na cultura pop e em outras questões da atualidade.
Ferramentas Online para Gematria
Existem diversos sites que podem calcular gratuitamente a sua data judaica de nascimento, além de calculadoras de gematria online.
Calculadora de Gemtatria
Data de Nascimento Judaica
Resultados curiosos obtidos através da Gematria em Outras Línguas
Embora não se trate de uma prática tipicamente cabalística, experimentos têm sido feitos com a aplicação da gematria a outras línguas. Os resultados são no mínimo curiosos. Veja dois (entre tantos!) exemplos:
Exemplo 1
Quando se inserem expressões como “Thriller Album,” “Grammy Award,” “Chimpanzee Bubbles” e “Painkiller” em um decodificador de gematria, todas elas estão associadas ao mesmo número que se obtém com a “Michael Jackson”.
Exemplo 2
Nas eleições presidenciais de Taiwan de 2024, havia três candidatos: Lai Ching-te, Hou Yu-ih e Ko Wen-je — Apenas o nome de Lai Ching-te estava vinculado à palavra “Presidente” no decodificador de gematria. Lai Ching-te foi o eleito e se tornou o presidente de Taiwan.
Embora céticos possam considerar esses resultados como simples coincidências ou superstições, há quem acredite que são evidências de que a prática pode ser aplicada a outras línguas.
Bem interessante, não é?
Argumentos bíblicos baseados em gematria
Um exemplo famoso de gematria aparece na interpretação de Gênesis 14:14, que é mencionada na Baraita das Trinta e Duas Regras e em outras referências talmúdicas e midráshicas. Este versículo menciona os 318 homens da casa de Abrão (cujo nome depois é mudado por Deus para Abraão) que ele levou consigo para derrotar os exércitos que haviam atacado recentemente seu parente.
O valor numérico do nome “Eliezer” (servo de Abrão) é 318; portanto, alguns intérpretes sugerem que, na verdade, foi apenas Eliezer que acompanhou Abrão, e não 318 homens. Um texto hassídico, o Kedushat Levi, usa gematria para tirar conclusões adicionais desse versículo. Este texto observa que o valor numérico da palavra “siach” (que significa “falar” ou “conversar” em hebraico) é 318. Com isso, argumenta-se que foi pelo poder de pronunciar o nome sagrado de Deus que Abrão derrotou seus inimigos.
Além disso, há também um exemplo interessante de gematria que leva em consideração a forma gramatical da palavra pode ser encontrado em Êxodo 35:1. O versículo começa com a frase “Eleh Hadevarim” (“Estas são as coisas” ou “palavras”), que precede a discussão sobre as leis do Shabat. Os sábios interpretam a palavra “Eleh” (estas), formada pelas letras Alef (א), Lamed (ל), e Hei (ה), como tendo o valor numérico de 36.
Os místicos também consideram que a palavra “Hadevarim” (palavras ou coisas) sugere um valor adicional de 3. Conforme explica o Rabino Yossef ben Hanina, a forma plural completa “Devarim” implica adicionar 3 ao valor numérico total. Se o texto tivesse usado a forma singular “Davar,” adicionaríamos 1; se tivesse usado a forma plural contraída “Divrei,” adicionaríamos 2. No entanto, como o texto usa “Devarim,” no plural por extenso, adicionamos 3.
Assim, somando os valores de “Eleh” (36) e “Hadevarim” (3), chegamos a 39. Este número faz alusão aos 39 trabalhos principais proibidos no Shabat.
Conclusão
Agora você sabe que a gematria não é apenas uma técnica antiga de atribuição de valores numéricos às letras do alfabeto hebraico; é uma ferramenta poderosa para descobrir significados ocultos e conexões profundas em textos sagrados e em sua própria vida.
Desde suas origens na cabala até suas aplicações modernas, a gematria revela como números e letras se entrelaçam para proporcionar uma compreensão mais rica do universo e da espiritualidade.
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